Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

sábado, 10 de novembro de 2018

(In)Decisões...

Ser lúcido é estar indisposto consigo próprio. O legítimo estado de espírito com respeito a olhar para dentro de si próprio é o estado (...) de quem olha nervos e indecisões.


E, ó vento vago
Das solidões,
Minha alma é um lago
De indecisões.

Ergue-a em ondas
De iras ou de ais,
Vento que rondas
Os pinheirais
!


Overwhelmed, you chose to run Apathetic to the stunt



No one plans to take the path That brings you lower And here you stand before us all And say it's over, it's over

"Pensei neste livro enquanto escrevia o final de 'Os Memoráveis', queria escrever a história de uma família que resistia à adversidade, tentando cada um esconder a sua vida privada aos outros". "Seriam vidas paralelas de resistência, e todas elas tinham em comum o facto de serem figuras prometaicas anónimas. Quis que este Estuário fosse o símile do local por onde corre o rio das histórias, que se retêm por uns instantes na brancura das páginas, antes de desaparecerem no esquecimento."


A perda de três dedos, e um troço da palma da mão direita,colocara-o no centro de um universo até então desconhecido. Valeria a pena a troca? Ninguém além dele mesmo tinha acesso ao dilema, mas o próprio por vezes, possuindo agora o que antes não tinha, achava que sim, que valia.
Valia a pena


Alguém teria de escrever esse livro, um livro que fosse, ao mesmo tempo, o último do passado e o primeiro do futuro. Teve a certeza disso mesmo, no dia em que o médico finlandês, o Dr. Häkkinen, um folgazão subitamente assaltado por mau humor, se sentou na cama ao seu lado e começou a discorrer sobre a contradição do universo humanitário. Para quê todo aquele sacrifício? Para quê, se o caminho sempre seria o martírio da vida de uns pela sobrevivência de outros? E para quê poupar uns em nome de outros, se a catástrofe era certa, e sobre alguém sempre acabaria por recair?


A noite invadia lentamente a minha inatenção. Despertei de repente para a ver entrada. Flutuavam ainda, nas indecisões da Natureza, ruídos incertos como se as coisas compusessem o manto para adormecer.
Tive um outro intervalo comigo próprio. Tornei a meditar sem saber em quê. Quando de novo despertei o silêncio era absoluto — logo invisível de todos os meus sonhos idos e das minhas esperanças mortas, e a minha consciência da vida afundava-se lentamente nele, assumindo, à medida que se afundava, noções novas de possibilidades de compreender a vida sob outros aspectos, vagos terrores e interiores.
As casas eram grandes jazigos impossíveis. As árvores, no seu alinhamento ao longo da avenida, vagas atitudes despidas de nos poderem dar qualquer ideia de vegetais. Tive de repente uma sensação ampla e absurda — a de que eu era um mar, ou o traço de um mar, que a vaga proa de não sei que navio vinha erguidamente abrindo.Pareceu-me que me dividia e que através do meu dividir, me passavam sensações de outras coisas e que essas sensações por me dividirem no passar, não eram sentidas por mim.Acabou tudo como uma rua quando viramos a esquina. Tive uma dificuldade física em me crer existente. Para além da linha dos cimos dos prédios olhava a […]


As palavras pugnavam por abrir caminho, continha-as num acto de prudência, de vontade de secretismo ou, pelo menos, de discrição, como se a matéria fosse delicada e não devesse transcender, talvez nem expressar-se , porquanto o que é expresso instala-se no ar e torna-se difícil fazê-lo retroceder.

Não é exequível não entender aquilo que noutra época não se entendia, uma vez que se entendeu.; a ignorância não regressa nem sequer para relatar o período em que se gozou ou se foi vítima dela, falseia quem conta algo dando-se ares de inocência e ostenta a dos tempos de infância, adolescência ou juventude(...) está encerrada a conta e jamais alguém a vai reabrir...

"Deve ter-me escolhido por isso, pela minha insignificância", pensei, " Contá-lo a mim é o mais parecido com o não contar a ninguém. " ... A mim pode despedir e perder de vista, pode quase cancelar-me, serei um vazio antes e depois. Por outro lado, também posso indagar, aprofundar ou sondar. Não tenho ressonância, nem dou azo a consequências.

A verdade é uma categoria que se suspende enquanto se vive...Sim, é ilusório ir atrás dela,uma perda de tempo e uma fonte de conflitos, uma estupidez. E, no entanto, não podemos deixar de o fazer... porque temos a certeza de que existe, embora se encontra num lugar e num tempo aos quais não podemos aceder.


Enquanto personagem de ficção, Ricardo Reis é mais do que um heterónimo (…). Ele está no centro de uma ação narrativa em que lida com outras personagens, vive situações amorosas, conhece factos históricos e circula por espaços que identificamos sem dificuldade. Nesse sentido, O Ano da Morte de Ricardo Reis deve ser considerado uma obra que “fala” ao nosso tempo; para isso, importa estabelecermos ligações entre aqueles factos, aqueles espaços e o nosso mundo, que é o de quem vive já no século XXI. Por exemplo: o tempo político de Salazar e os anos anteriores à segunda guerra mundial (Saramago situa a ação do seu romance em 1935 e 1936) tiveram consequências que se prolongaram ao longo do século XX; essas consequências fazem parte das nossas vidas. Para a história da Europa e do mundo, aqueles anos foram decisivos. Embora eles não se encontrem representados na ficção de Saramago como o são num manual de História, a verdade é que, através da ficção, adquirimos um outro conhecimento, como que “reinventado”, de figuras e de episódios históricos. De certa forma, é isso que se passa noutros romances de Saramago, por exemplo, no Memorial do Convento e na História do Cerco de Lisboa. A estes e também a O Ano da Morte de Ricardo Reis pode bem aplicar-se aquilo que o seu autor um dia escreveu, quando falou numa certa alternativa ao trabalho do historiador : “Restará sempre, contudo, uma grande zona de obscuridade, e é aí, segundo entendo, que o romancista tem o seu campo de trabalho.
(Carlos Reis, Coleção "Educação Literária. Leituras Orientadas")

“Se houver Deus, ele é um mau romancista”- A linguagem é a arma mais poderosa do mundo e há quem mate para dominar o seu segredo. É o ponto de partida deste romance de Laurent Binet. A linguística e os teóricos franceses da segunda metade do século XX são personagens. Ficção ou realidade?
“Tenho grande admiração pela maior parte destas pessoas, mas ao mesmo tempo acho-as cómicas”, “Por exemplo, muita gente ficou chocada com o modo como escrevo sobre Foucault, mas as cenas sobre Foucault no meu livro são na maioria verdadeiras, foram contadas por velhos amigos, estão nas biografias; como ele se comportava em grandes festas, o consumo de drogas, como ficava bêbado e deixava de conseguir falar inglês.” “Quis mostrar que saber usar a linguagem é muito útil, partindo de estudos abstractos, como a Semiótica ou a Retórica. A Semiótica é útil para entender o mundo e a Retórica é útil para lidar com ele, para conquistar poder, por exemplo, uma arma poderosa.”


- Esse Chaussure(1), ele conhece Barthes?
— Ele não, já morreu, é o inventor da Semiologia.
— Hum, estou a perceber. No entanto Bayard não está a perceber coisa alguma. Os dois homens atravessam a cafetaria. É uma espécie de hangar devastado que tresanda a merguez, a crepes e a erva. Um tipo grande e desengonçado com botas de pele de lagarto, lilases, está de pé sobre uma mesa. A prisca nos beiços, uma cerveja na mão, arenga uns jovens que o escutam, de olhos brilhantes. Como Simon Herzog não tem gabinete, convida Bayard a sentar-se e, maquinalmente, oferece-lhe um cigarro. Bayard recusa, saca de um Gitane e recomeça: — Concretamente, isso serve para quê, essa... ciência?
— Ora bem... para compreender o real?
Bayard esboça uma careta. — Isso quer dizer?
O jovem doutorando leva alguns segundos para pensar. Avalia a capacidade de abstração do interlocutor, manifestamente limitada, adaptando a sua resposta em função disso, ou eles não irão sair dali durante horas.
— De facto, é simples, há uma quantidade de coisas à nossa volta que têm, enfim, uma função de uso. Está a perceber?
Silêncio hostil do interlocutor. No outro extremo da sala, o tipo das botas de pele de lagarto, lilases, conta aos seus jovens discípulos a grande façanha de 68 que, na boca dele, parece uma mistura de Mad Max e de Woodstock. Simon Herzog tenta simplificar ao máximo:
— Uma cadeira serve para nos sentarmos, uma mesa para comermos, uma secretária para trabalharmos, a roupa para nos mantermos quentes, etc. Certo?
— Silêncio glacial. Prossegue: — Só que além da sua função de uso… da sua utilidade, esses objetos são igualmente dotados de um valor simbólico... como se fossem dotados de palavra, se prefere: eles dizem-nos coisas. Essa cadeira, por exemplo, em que está sentado, com o seu nenhum design, essa fraca madeira envernizada, essa armação ferrugenta, diz-nos que estamos numa coletividade que nada quer saber de conforto nem de estética, e que não tem dinheiro. Além do mais, estes cheiros indefinidos a cantina de má qualidade e a cannabis confirmam-nos que estamos num local universitário. Do mesmo modo, a sua maneira de vestir assinala a sua profissão: usa fato, o que denuncia um emprego de funcionário, mas a sua roupa é modesta, o que implica um salário modesto e/ou uma ausência de interesse pela sua aparência, exerce assim uma profissão onde a apresentação não conta, ou conta pouco. Os seus sapatos estão muito coçados, embora tenha vindo de carro, isso significa que não passa o seu tempo numa secretária, mas no terreno. Um funcionário que sai do seu gabinete tem todas as probabilidades de ser destacado para um trabalho de inspeção.
— Hum, estou a ver — diz Bayard.

(1 ) Trocadilho, de gosto duvidoso, entre o nome do famoso linguista Saussure e «chaussure», sapato.

I want you more than I need you I need you so bad Are you coming back? Are you coming back? I’m waiting...



Cross over and turn Feel the spot don't let it burn We all want we all yearn Be soft don't be stern Lullaby Was not supposed to make you cry I sang the words I meant I sang...

Lullaby - Acordei a pensar nesta palavra inglesa, que me cativa, sobretudo pelo significante, e descubro o tema em pessoa... Regresso, momentaneamente, à minha infância , sem "lullabies"...

Nurse, I known now
That love is vain.
When I was small
You used to sing
And soothe my brow
Till calm lost pain.
That song recall
And to me bring.


God knows. And an He knew not
And were not, what of it?
No matter that we do not
Our life with living fit.
Glad to have sleep and tears,
Lullaby to our fears!


Mother, my cheeks are wet.
Let down my hair and kiss
My brow. I seem to forget
Even if I think of this.


Lullaby to me, mother,
Lullaby to me.
I loved and was not loved, mother.
Kiss me and let me be.


e tudo é uma doença incurável. A ociosidade de sentir o desgosto de ter de não saber fazer nada, a incapacidade de agir.(...)

Não sei viver! nem fui para viver Destinado; porquê então a vaga Aspiração que tenho? Regresso sempre...You know i need solitude just as much as i need you by my side.




Alea iacta est... Palavras atribuídas por Suetónio a Júlio César, quando passou o Rio Rubicão, contrariando as ordens do Senado Romano, Esta frase emprega-se quando se toma uma decisão enérgica e grave, geralmente irreversível, depois de se ter hesitado muito.

You know I can't sleep, I can't stop my brain You know it's three weeks, I'm going insane You know I'd give you everything I've got For a little peace of mind I'd give you everything I've got for a little peace of mind I'd give you everything I've got for a little peace of mind...



Flutuavam ainda, nas indecisões da Natureza, ruídos incertos como se as coisas compusessem o manto para adormecer. Tive um outro intervalo comigo próprio. Tornei a meditar sem saber em quê. Quando de novo despertei o silêncio era absoluto — logo invisível de todos os meus sonhos idos e das minhas esperanças mortas, e a minha consciência da vida afundava-se lentamente nele, assumindo, à medida que se afundava, noções novas de possibilidades de compreender a vida sob outros aspectos, vagos terrores e interiores.(...) Tive de repente uma sensação ampla e absurda — a de que eu era um mar, ou o traço de um mar, que a vaga proa de não sei que navio vinha erguidamente abrindo. Pareceu-me que me dividia e que através do meu dividir, me passavam sensações de outras coisas e que essas sensações por me dividirem no passar, não eram sentidas por mim. Acabou tudo como uma rua quando viramos a esquina. Tive uma dificuldade física em me crer existente.[…]



Yo sé que no sé tomar una decisión. Ando como perro en cancha de bochas Quiero algo pero digo no Y en vez de irme siempre me quedo. Tengo que librarme de toda opinión Dudo de lo que hago aunque me guste Y si alguien viene y dice: mmm! Largo todo y pienso en cómo, dónde y cuando hacerlo ¿Qué le voya a hacer? ¡No hay caso, no aprendo! Sólo sé que al final lo lamento Cambio ideas que me llaman, llaman, llamando Y van cambiando, yo voy cambiando Y voy dudando, lo hago dudando Y voy pensando, lo hago pensando ¿Para qué sembraron la duda? Oigo voces dentro Me abruman

Sem comentários: