A arquitectura deverá ser, entre outras coisas, uma ciência moral. Ciência moral, mas não moralista. Isto é: não uma ciência que tenha como objectivo aumentar a moral do espaço, não: defender a arquitectura como ciência moral é defender a arquitectura como uma ciência que se preocupa com a relação entre distâncias, tamanhos, cores, não apenas numa relação de verdade ou beleza, mas ainda, e, por último, numa relação de justiça.
A arquitectura procura o verdadeiro, o belo e o justo—tese clássica.
Isto é: ao número não basta ser exacto, terá de ser também belo e justo.Quantidades belas e quantidades morais. Atribuir adjectivos fortes
a -qualidades como são as quantidades: eis a dificuldade do arquitecto e de qualquer artista ou escritor.
Farei do sonhar-te o ser forte, e a minha pena quando fale a tua Beleza, terá melodias de forma, curvas de estrofes, esplendores súbitos como os dos versos imortais.
Creêmos, ó Apenas-Minha, tu por existires e eu por te ver existir, uma arte outra do que toda a arte. Do teu corpo de ânfora inútil saiba eu tirar a alma de novos versos e do teu ritmo lento de onda silenciosa saibam os meus dedos trémulos ir buscar as linhas pérfidas de uma prosa virgem de ser ouvida.
O teu sorriso melodioso indo-se seja para mim símbolo e emblema visível do soluço calado do inúmero mundo ao saber-se erro e imperfeição. As tuas mãos de tocadora de harpa me fechem os olhos, as pálpebras quando eu morra de ter dado a construir-te a minha vida. E tu, que não és ninguém, serás para sempre, ó Suprema, a arte querida dos deuses que nunca foram, e a mãe virgem e estéril dos deuses que nunca serão.
As coisas são, para as nossas sensações, belas. Portanto a beleza in‑se, beleza ideal é uma realidade. Se esta beleza ideal for real, pois que não é da mesma ordem das coisas, e é, quero dizer, uma ideia; ou ambas as ideias e coisas existem realmente, ou uma é mais real que a outra, existindo ambas, ou uma é real e outra irreal, uma verdadeira e a outra falsa.
Sempre que tenho uma sensação agradável em companhia de outros, invejo-lhes a parte que tiveram nessa sensação. Parece-me um impudor que eles sentissem o mesmo do que eu, que me devassassem a alma por intermédio da alma, unissonamente sentindo.(...)
Esforço-me por isso para alterar sempre o que vejo de modo a tomá-lo irrefragavelmente meu — de alterar, mentindo — o momento belo e na mesma ordem de linha de beleza, a linha do perfil das montanhas; de substituir certas árvores e flores por outras, vastamente as mesmas diferentissimamente; de ver outras cores de efeito idêntico no poente — e assim crio, de educado que estou, e com o próprio gesto de olhar com que espontaneamente vejo, um modo interior do exterior.
Isto, porém, é o grau ínfimo de substituição do visível. Nos meus bons e abandonados momentos de sonho arquitecto muito mais.
Não amava as crianças, mas queria-as bem tratadas, servidas, mantidas com luxo para não destoarem da casa e dela própria que parecia um quadro, como Ritinha dizia por gestos largos e espaventosos. De facto, a beleza de Ema tornara-se tão evidente que causava uma espécie de paralisia. Aquilo que não se critica desenvolve uma obediência capaz de, para encontrar saída, cair noutras reprovações. Ema passou de pasto de maledicência e ainda não tinha feito nada de condenável. Foi nessa altura que lhe inventaram o título de madame Bovary.
Sua beleza é total
Tem a nítida esquadria de um Mantegna
Porém como um Picasso de repente
Desloca o visual
Seu torso lembra o respirar da vela
Seu corpo é solar e frontal
Sua beleza à força de ser bela
Promete mais do que prazer
Promete um mundo mais inteiro e mais real
Como pátria do ser
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