Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

terça-feira, 21 de julho de 2015

Ingenuidade,inocência e ignorância...

Há duas espécies de ingenuidade: uma que ainda não percebeu todos os problemas e ainda não bateu a todas as portas do conhecimento; e outra, de uma espécie mais elevada, que resulta da filosofia que, tendo olhado dentro de todos os problemas e procurado orientação em todas as esferas do conhecimento, chegou à conclusão de que não podemos explicar nada, mas temos de seguir as convicções cujo valor inerente nos fala de maneira irresístivel.

Sinónimos de ingenuidade: credulidade, inocência, simplicidade; singeleza, candura, pureza; ignorância; infantilidade, criancice, puerilidade. A palavra ingenuidade aparece também nas seguintes entradas dos dicionários: mocidade, virgindade, integridade, inexperiência, bonomia...
Conciliando todas estas aceções, diria que a ingenuidade é uma forma inocente, crédula e cândida de ser simples e puro, transcendendo a materialidade grosseira do pragmatismo reinante.

Havia em Vestfália, no castelo do senhor barão de Thunder-ten-tronckh, um jovem a quem a natureza dotara da índole mais suave. A sua fisionomia anunciava -lhe a alma. Era reto de juízo e simples de espírito, razão pela qual, creio eu, o chamavam Cândido. Suspeitavam os velhos criados que fosse filho da irmã do senhor barão e de um bom e honrado gentil-homem da vizinhança, com quem esta jamais consentira em casar-se, porque ele só pudera alegar setenta e uma gerações, havendo as injúrias do tempo destruído o resto da sua arvore genealógica.

Depois do tremor de terra que destruiu três quartas partes de Lisboa, os sábios do país não encontraram meio mais eficaz para impedir a ruína total da cidade do que dar ao povo um auto-de-fé. Fora decidido pela Universidade de Coimbra que o espetáculo de algumas pessoas queimadas a fogo lento, em grande cerimonial, era um meio infalível de impedir a terra de tremer.


Voltaire pretende demonstrar que, pelo menos ao nível do homem, a existência é absurda e que é inútil tentar justificá-la. Deste ponto de vista, a sua atitude é extremamente moderna. O erro de Pangloss está em pretender introduzir artificialmente uma causalidade na sucessão de acontecimentos cuja lógica escapa ao espírito humano.

A frescura de impressões, o modo directo de sentir que aprendi nos seus versos, apliquei-o a outros assuntos, a uma Natureza de ordem diversa. Assim, reparei que uma máquina é tão natural — porque é tão real, e, afinal, ser natural é ser real, se formos a pensar a fundo — como uma árvore; e uma cidade como uma aldeia. O que é essencial é sentir directamente e com ingenuidade as coisas — árvores ou máquinas, campo ou cidade. A minha sensibilidade predispõe-me a sentir a máquina mais do que a árvore, a cidade mais do que o campo. Não deixo por isso de ter direito ao nome de poeta. O essencial é sentir directa e simplesmente. Eu sinto directa e simplesmente. Sinto o complexo, o anormal e o artificial? É o meu modo de sentir. Logo que eu os sinta espontaneamente, estou no meu lugar, no lugar que a Natureza, criando-me assim, me impôs. Cumpro o meu dever. Chamam-me um «transviado». Não o sou. [...] e não transviado de mim próprio senão transviado [...]. Nasci para sentir as coisas simplesmente, tanto como vós; mas não nasci, como vós, para sentir só as coisas simples. Se eu sou eu e não vós, para que hei-de escrever como escreveis? Escrevo como [...] em mim é eu ser eu. Em que sou eu «transviado» em ser eu?

A ingenuidade é o legítimo segredo de cada qual, é a sua verdadeira idade, é o seu próprio sentimento livre, é a alma do nosso corpo, é a própria luz de toda a nossa resistência moral. Mas os ingénuos são os primeiros que ignoram a força criadora da ingenuidade e, na ânsia de crescer, compram vantagens imediatas ao preço da sua própria ingenuidade. Raríssimos foram e são os ingénuos que se comprometeram um dia para consigo próprios a não competir neste mundo senão consigo mesmos. A grande maioria dos ingénuos desanima logo de entrada e prefere tricher no jogo de honra, do mérito e do valor. São eles as próprias vítimas de si mesmos, os suicidas dos seus legítimos poetas, os grotescos espanatalhos da sua própria esperteza saloia.
Bem haja o povo que encontrou para o seu idioma esta denunciante expressão da pessoa que é vítima de si mesma: a esperteza saloia. A esperteza saloia representa bem a lição que sofre aquele que não confiou afinal em si mesmo, que desconfiou de si próprio, que se permitiu servir de malícia, a qual como toda a espécie de malícia não perdoa exactamente ao próprio que a foi buscar. Em português a malícia diz-se exactamente por estas palavras: esperteza saloia.
(...)na ingenuidade tudo é de ordem emocional. Tudo. O que não acontece com as outras espécies de conhecimento onde tudo é de ordem intelectual. Na ordem intelectual é possível reatar um caminho que se rompeu. Na ordem emocional, uma vez roto o caminho, já nunca mais se encontrará sequer aquela ponta por onde se rompeu...


O " Mestre Ingénuo" de fernando pessoa..
Como quem num dia de Verão abre a porta de casa E espreita para o calor dos campos com a cara toda, Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa Na cara dos meus sentidos, E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber Não sei bem como nem o quê... Mas quem me mandou a mim querer perceber? Quem me disse que havia que perceber? Quando o Verão me passa pela cara A mão leve e quente da sua brisa, Só tenho que sentir agrado porque é brisa Ou que sentir desagrado porque é quente, E de qualquer maneira que eu o sinta, Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo..

Se eu pudesse trincar a terra toda E sentir-lhe um paladar, Seria mais feliz um momento...Mas eu nem sempre quero ser feliz. É preciso ser de vez em quando infeliz Para se poder ser natural...Nem tudo é dias de sol,E a chuva, quando falta muito, pede-se.Por isso tomo a infelicidade com a felicidade Naturalmente, como quem não estranha Que haja montanhas e planícies E que haja rochedos e erva... O que é preciso é ser-se natural e calmo Na felicidade ou na infelicidade, Sentir como quem olha, Pensar como quem anda, E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, E que o poente é belo e é bela a noite que fica...Assim é e assim seja...

Amar é a eterna inocência,E a única inocência não pensar...

Só a inocência e a ignorância são
Felizes, mas não o sabem. São-no ou não?
Que é ser sem no saber? Ser, como a pedra,
Um lugar, nada mais.


Que quer? A ideia mais natural para o homem, a que lhe surge ingenuamente, como no fundo da sua natureza, é a ideia da sua inocência.

Aquilo que de verdadeiramente significativo podemos dar a alguém é o que nunca demos a outra pessoa, porque nasceu e se inventou por obra do afeto. O gesto mais amoroso deixa de o ser se, mesmo bem sentido, representa a repetição de incontáveis gestos anteriores numa situação semelhante. O amor é a invenção de tudo, uma originalidade inesgotável. Fundamentalmente, uma inocência.

Todas as coisas que dizes Afinal não são verdade. Mas, se nos fazem felizes, Isso é a felicidade. O que aconteceu? O que aconteceu à inocência? Música no coração. Subitamente, esta expressão, que sempre achei ridícula, título de um filme exasperante, uma vez que detesto o romantismo em formato musical, surgiu com significado...No tempo da inocência ,conseguia sorrir , nesses momentos,sentia música no coração...



Talvez que amanhã Em outra paisagem Digas que foi vã Toda esta viagem Até onde quis Ser quem me agrada... Mas ali fui feliz... Não digas nada.

Dão-nos um mapa imaginário Que tem a forma de uma cidade Mais um relógio e um calendário Onde não vem a nossa idade Dão-nos a honra de manequim Para dar corda à nossa ausência. Dão-nos um prémio de ser assim Sem pecado e sem inocência.

Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...Amar é a eterna inocência, E a única inocência é não pensar...

A criança que fui chora na estrada. Deixei-a ali quando vim ser quem sou; Mas hoje, vendo que o que sou é nada, Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Quem me dera voltar à inocência Das coisas brutas, sãs, inanimadas, Despir o vão orgulho, a incoerência: - Mantos rotos de estátuas mutiladas!

São João Batista, voz que clama no deserto, endireitai os caminhos do Senhor, fazei penitência, porque no meio de vós esta quem não conheceis, e do qual eu não sou digno de desatar os cordões das sandálias. Ajudai-me a fazer penitência das minhas faltas, para que eu me torne digno do perdão daquele que vós anunciaste com estas palavras: Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira o pecado do mundo. São João Batista rogai por nós. Amém.

Ó Glorioso São João Batista, príncipe dos profetas, precursor do divino Redentor, primogénito da graça de Jesus e da intercessão de sua Santíssima Mãe, que fostes grande diante do Senhor, pelos estupendos dons da graça de que fostes maravilhosamente enriquecido desde o ceio materno, e por vossas admiráveis virtudes, alcançai-me de Jesus, ardentemente vos suplico, que me dê a graça de o amar e servir com extremado afecto e dedicação até a morte. Alcançai-me também, meu excelso protector, singular devoção a Virgem Maria Santíssima, que por amor de vós foi com pressa à casa de vossa mãe S. Isabel, para serdes livre do pecado original e cheio dos dons do Espírito Santo. Se me conseguirdes estas duas graças, como muito espero de vossa grande bondade e poderoso valimento, estou certa de que, amando até a morte a Jesus e a Maria, salvarei minha alma e no céu convosco e com todos os Anjos e Santos amarei e louvarei a Jesus e a Maria entre gozos e delícias eternas. Amém.

Amar é a eterna inocência, E a única inocência é não pensar..

Não é o vício Nem a experiência que desflora a alma: É só o pensamento. Há inocência Em Nero mesmo e em Tibério louco Porque há inconsciência. Só pensar Desflora até ao íntimo do ser. Este perpétuo analisar de tudo, Este buscar duma nudez suprema Raciocinada coerentemente, É que tira a inocência verdadeira Pela suprema consciência funda De si, do mundo, de todos. Guarde, guarde Fora do vício e do vil mundo além Em gruta ou solidão o eremita; (...) Pensar, pensar e não poder viver! Rindo-se da inocência! Se ele soubesse O que é perder a inocência toda...

Só a inocência e a ignorância são Felizes...

ig·no·ran·te - adjectivo de dois géneros.
1. Que ignora.
2. Que não tem instrução.


8 de abril de 2015



Where were you when I was burned and broken? While the days slipped by from my window watching Where were you when I was hurt and I was helpless Because the things you say and the things you do surround me While you were hanging yourself on someone else's words.

Esse baixel nas praias derrotado Foi nas ondas Narciso presumido; Esse farol nos céus escurecido Foi do monte libré, gala do prado.Esse nácar em cinzas desatado Foi vistoso pavão de Abril florido; Esse Estio em Vesúvios encendido Foi Zéfiro suave, em doce agrado.

Mais dura, mais cruel, mais rigorosa Sois, Lísi, que o cometa, rocha ou muro Mais rigoroso, mais cruel, mais duro, Que o Céu vê, cerca o mar, a terra goza. Sois mais rica, mais bela, mais lustrosa Que a perla, rosa, Sol ou jasmim puro, Pois por vós fica feio, pobre e escuro,Sol em Céu, perla em mar, em jardim rosa.

Fílis, abelha sou, sou borboleta Que com afecto igual, com igual sorte, Busco em vós melhor luz, flor mais selecta,Mas quando a flor é branda,a chama é forte, Néctar acho na flor, na luz cometa,A boca me dá vida, os olhos morte.

A minha bela ingrata Cabelo de ouro tem, fronte de prata, De bronze o coração, de aço o peito; São os olhos reluzentes (Por quem choro e suspiro, Desfeito em cinza, em lágrimas desfeito), Celestial safiro; Os beiços são rubins, perlas os dentes; A lustrosa garganta De mármore polido; A mão de jaspe, de alabastro a planta. Que muito, pois, Cupido, Que tenha tal rigor tanta lindeza, As feições milagrosas, Para igualar desdéns a formosuras, De preciosos metais, pedras preciosas, E de duros metais, de pedras duras?

Vi Fílis, a bela, Lume dos meus olhos, Olhos de minha alma, Alma de meu corpo. Vi-a, e logo amor. Vi-a, e Febo logo Quer que a pinte a cores, Quer que a cante a coros...Quem me fora Apeles! Quem me fora Apolo! O campo da testa Belo e belicoso, Faz de neve fronte A esquadrão de fogo. Seus olhos rasgados De avarentos noto, Pois quanto mais ricos Tanto estão mais rotos. São mar de beleza Que me tem absorto...

Esse jasmim que arminhos desacata, Essa aurora que nácares aviva,Essa fonte que aljôfares deriva, Essa rosa que púrpuras desata;
Troca em cinza voraz lustrosa prata, Brota em pranto cruel púrpura viva, Profana em turvo pez prata nativa,Muda em luto infeliz tersa escarlata. Jasmim na alvura foi, na luz Aurora, Fonte na graça, rosa no atributo, Essa heróica deidade que em luz repousa. Porém fora melhor que assim não fora, Pois a ser cinza, pranto, barro e luto, Nasceu jasmim, aurora, fonte, rosa.


Artificiosismo da poesia barroca: vazia de emoção, mas perfeita no seu cultismo e concetismo... é uma forma sem conteúdo...

O século XVII é a minha época natural: artifícios, teatralidade , engano e fingimento são a minha essência oculta.

Digo, Señora, por no me salir de mi obligación y por no dejar nada sin perfecta idea, que sabrá lo que vos sabéis y hará lo que vos hicistes. Aquí van todos los espantos que puede tener una composición de fantesías cuando dellas se fabrique una dama, que de manera me sabéis arte y naturaleza que nacistes gran maestra de lo bueno y os destinaron a las eminencias los aplausos para destribuir a todos los estados perfeción, a quien distes en lo infeliz constancia y en lo feliz modestia, guardando en varias formas igualdad, ánimo en todas las edades, una destribución que se quedó regla inefable de tocas y de galas.





Mas a minha tristeza é sossego Porque é natural e justa E é o que deve estar na alma Quando já pensa que existe E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.


Antes de mais nada,bailes de máscaras é coisa que devia ser proibida...Pronto.A minha fúria crescia cada vez mais...se o Ritchie estivesse por cá,pedia-lhe que me medisse a tensão arterial.Os estudantes de Medicina ficam encantados quando lhes pedem coisas dessas.
Ora aqui está. Uma rapariga de dezassete anos. Com o aspecto de uma Vénus de Milo com braços – talvez não gostem da ideia, mas então é porque também não gostam de certeza de uma bela égua bem lançada –, uma rapariga com umas coxas, uns seios e um corpo como não há por aí às dúzias, e uma bela cabeça de eslava, um pouco achatada, com olhos oblíquos e cabelo loiro todo ondulado. E uma rapariga que, além disso, tem de seu. Tem dezassete anos; é assim e deixa-se injectar com morfina por um tipo que parece um chulo de baixa categoria..., e que, ainda por cima, tem maquilhagem. Juro-lhes que elas não percebem nada. Agarro nela e ponho-a de pé. – Vamos lá, minha lorpa – digo-lhe eu. Estou-me nas tintas para a hipótese de alguém entrar. Não se esqueçam de que estou vestido de mulher... e nada tem de chocante ver uma velha amiga meter na cama outra velha amiga que se meteu um pouco nos copos.

Não sejam ignorantes,raparigas...
Não se casem raparigas não se casem Façam antes cinema Fiquem virgens em casa do papá Sejam serventes no carvoeiro Criem macacos criem gatos Levantem a pata na Ópera Vendam caixas de chocolate Professem ou não professem Dancem em pêlo para os gagás Sejam matadoras na avenida do Bois Mas não se casem raparigas Não se casem Não se casem raparigas não se casem Vistam os vossos vestidos de gala Vão dançar ao Olímpia Mudem de amante quatro vezes por mês Peguem na massa e guardem-na Escondam-na fresca debaixo do colchão Aos cinquenta anos pode servir Para sacar belos rapazes Nada na cabeça tudo nos braços Ah que bela vida será Se não se casarem raparigas Se não se casarem...

E nada mais havendo a tratar, deu-se por encerrada a sessão...

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