O senhor foi bem sucedido e conseguiu fazer uma coisa notável.(...) Você conseguiu irritar-me.(...) Receio que a minha fúria e a sua injúria sejam grandes de mais para se deixarem apagar por um pedido de desculpas- Tmbém não as apagaria um duelo. Se o matasse, continuaria a não as apagar. Só há uma maneira de apagar uma injúria assim, e é por ela que opto. Vou demonstra-lhe , possivelmente através do sacrifício da minha vida e da minha honra, que se enganou no que disse..
Algo me fazia sentir pequena e apertada entre forças cósmicas, como o herói de uma tragédia grega... Eu caminhava como se percorresse o próprio caminho da minha vida, deserto. A olhar para as sombras das pessoas que, a meu lado, se escapavam sem que eu conseguisse agarrá-las. Agarrando cada instante, irremediavelmente, no meio da solidão... Parecia-me que de nada vale correr, se sempre vamos pelo mesmo caminho, fechado, da nossa personalidade. Alguns seres nascem para viver, outros para trabalhar, outros para ver a vida. Eu tenha um pequeno e mau papel de espectadora. Para mim era impossível sair dele. Impossível libertar-me. Uma tremenda angústia foi, nesse momento, a única coisa real para mim.
E o espírito de ambos absorvia tudo o que de grandioso e belo a vida despositava a seus pés,sem nada rejeitar,e no entanto, quando alcançavam o pico de tais vivências,alguma coisa, estranhamente,os deixava frustados.Os desejos e as vaidades que de resto tinham preenchido as suas vidas encontravam-se agora muito abaixo deles...O que restava era o silêncio, o vazio,a profundidade."Seremos nós dois eleitos?"
E enquanto a excitação traçava um arco trémulo entre os dois,disse em voz baixa para o amigo... - A razão não é o único meio de dois seres se entenderem!... Não.já antes o disse. A autêntica verdade entre duas pessoas não pode ser dita.Qualquer esforço nesse sentido se transforma em obstáculo.
Não sei quem foi a mulher que teve o descaramento de ser amada pelo meu mestre Caeiro. Não quero saber, com quanto sou. Fosse quem fosse ou fingisse, desprezo-a do alto de quem sou e em nome do universo. Que ela fique sempre anónima, até para si mesma. Que «arre» lhe seja o passaporte e o que faltar lhe ponha o visto. Desista! Não merece mais que o Disparate! Apague-se à borracha o que se não chegou a ler.
Apagar tudo do quadro de um dia para o outro, ser novo com cada nova madrugada, numa revirgindade perpétua da emoção – isto, e só isto, vale a pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos. Esta madrugada é a primeira do mundo. Nunca esta cor rosa amarelecendo para branco quente pousou assim na face com que a casaria de oeste encara cheia de olhos vidrados o silêncio que vem na luz crescente. Nunca houve esta hora, nem esta luz, nem este meu ser. Amanhã o que foi será outra coisa, e o que eu vir será visto por olhos recompostos, cheios de uma nova visão
Durante todo um período, enchi páginas e páginas de perguntas...Agora que M me deixara, se deixara de me amar, se eu própria não o amava já, porque teria de continuar a tranportar tanta coisa sua? O que eu nele depositara fora decerto abolido por C...Mas eu , que me tinha comprazido outrora com todos os sinais que assimilara dele, como poderia desfazer-me realmente deles, agora que deixara de os querer em mim? Como poderia rasurá-los definitivamente...do meu espírito, sem descobrir primeiro que parte de mim própria estaria desse modo a rasurar?
Não lhe expliquei que queria ...arrancar de mim própria esses aspetos que, por uma espécie de preconceito, nunca fora capaz de ver. Omiti que queria subtrair-me ao redemoinho da sua voz, das suas fórmulas verbais, dos seus modos, do seu sentimento do mundo. Queria ser eu, se era que esta fórmula significava ainda alguma coisa. Ou, pelo menos, queria ver aquilo que restava de mim,depois de ter apagado o que era dele.
Eu acho que dentro de nós há um espesso sistema de corredores e de portas fechadas. Não abrimos todas as portas, porque suspeitamos que o que há do outro lado não será agradável de ver (...) talvez seja não querermos saber quem somos na realidade.
Delete (Del.)- Tecla do computador cuja função é apagar elementos. Esta tecla apaga o caracter apontado pelo cursor, movendo os seguintes para uma posição anterior, preenchendo o espaço deixado pelo caractere removido. Noutros aplicativos de manipulação de sistema de arquivos, a tecla serve como um comando genérico para eliminar arquivos e pastas. Neologismo para apagar, com origem no latim delere."Deletar" já se encontra nos dicionários de língua portuguesa mais recentes, como verbo transitivo direto...
Pequena vida consciente, sempre
Da repetida imagem perseguida
Do fim inevitável, a cada hora
Sentindo-se mudada,
E, como Orfeu volvendo à vinda esposa
O olhar algoz, para o passado erguendo
A memória pra em mágoas o apagar
No baratro da mente
E ela imaginou com sede a água clara e fria em roda dos seus ombros, e imaginou a relva onde se deitariam os dois, lado a lado, à sombra das folhagens e dos frutos. Ali parariam. Ali haveria tempo para poisar os olhos nas coisas. Ali poderiam respirar devagar o perfume das roseiras. Ali tudo seria demora e presença. Ali haveria silêncio para escutar o murmúrio claro do rio. Silêncio para dizer as graves e puras palavras pesadas de paz e de alegria. Ali nada faltaria: o desejo seria estar ali.
Dei-te a solidão do dia inteiro,
Na praia deserta, brincando com a areia,
No silêncio que apenas quebrava a maré cheia
A gritar o seu eterno insulto,
Longamente esperei que o teu vulto
Rompesse o nevoeiro.
Haverá alguém tão insensato que se deixe morrer sem ter dado uma volta à sua prisão? Haverá alguém tão insensato que insista em permanecer quando é evidente que urge partir? Haverá alguém tão insensato que não perceba quando deve ficar em silêncio??
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