Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...
quarta-feira, 31 de maio de 2017
Condenações e Prisões...
..Em cumprimento da sentença, tudo foi reduzido a cinzas. O último pedaço encontrado nas brasas só acabou de se consumir às dez e meia da noite. Os pedaços de carne e o tronco permaneceram cerca de quatro horas ardendo. Os oficiais, entre os quais me encontrava eu e meu filho, com alguns arqueiros formados em destacamento, permanecemos no local até mais ou menos onze horas.
Existe na justiça moderna e entre aqueles que a distribuem uma vergonha de punir, que nem sempre exclui o zelo; ela aumenta constantemente: sobre esta chaga pululam os psicólogos e o pequeno funcionário da ortopedia moral.
Permanece, por conseguinte, um fundo “supliciante” nos modernos mecanismos da justiça criminal — fundo que não está inteiramente sob controle, mas envolvido, cada vez mais amplamente, por uma penalidade do incorporai.
Terminada uma tragédia, começa a comédia, com sombrias silhuetas, vozes sem rosto, entidades impalpáveis. O aparato da justiça punitiva tem que ater-se, agora, a esta nova realidade, realidade incorpórea.(...) Faz 150 ou 200 anos que a Europa implantou os seus novos sistemas de penalidade, e desde então os juizes, pouco a pouco, mas por um processo que remonta bem longe no tempo, começaram a julgar coisa diferente além dos crimes; a “alma” dos criminosos.
O interrogatório é um meio perigoso de chegar ao conhecimento da verdade; por isso os juizes não devem recorrer a ele sem refletir. Nada é mais equívoco. Há culpados que têm firmeza suficiente para esconder um crime verdadeiro...; e outros, inocentes, a quem a força dos tormentos fez confessar crimes de que não eram culpados.
Encontrar para um crime o castigo que convém é encontrar a desvantagem cuja ideia seja tal que torne definitivamente sem atração a ideia de um delito. É uma arte das energias que se combatem, arte das imagens que se associam, fabricação de ligações estáveis que desafiem o tempo. Importa constituir pares de representação de valores opostos, instaurar diferenças quantitativas entre as forças em questão, estabelecer um jogo de sinais-obstáculos que possam submeter o movimento dasforças a uma relação de poder.
Como o modelo coercitivo, corporal, solitário, secreto, do poder de punir substitui o modelo representativo, cénico, significante, público, coletivo? Porque o exercício físico da punição (e que não é o suplício) substituiu, com a prisão que é seu suporte institucional, o jogo social dos sinais de castigo, e da festa bastarda que os fazia circular?
Tempo perdido: nada de novo. Prefere a análise de fernando pessoa:
(" O criminoso não é o louco, embora possa ser louco, pois, como disse, pode coexistir uma doença do sentido de relação com uma doença dos sentidos objectivo e subjectivo. O criminoso não é o idiota mental, embora, pelo mesmo motivo que no outro caso, possa ser idiota mental. O criminoso raríssimas vezes, se alguma, poderá ser um homem de génio, no verdadeiro sentido deste termo, pois, como expus, o crime se baseia precisamente no fenómeno mental contrário de aquilo em que se baseia o génio. O que pode haver é momentos, fenómenos ocasionais, de depressão do sentido de relação, como os pode haver no homem normal.
Creio, aliás, que o único caso onde se possa encontrar qualquer coisa parecida com a conjugação do génio autêntico e do crime, é em Benvenuto Cellini.
Ora todos estes fenómenos que descrevi podem ser orgânicos ou episódicos. Certas circunstâncias de educação, de meio, e outras mais ocasionais em muito menor grau, podem, até certo ponto, fazer do homem, que salvo elas seria normal, um imbecil. Certas circunstancias, já mais fáceis de produzir, podem fazer de um homem normal um louco. Outras circunstâncias, como certos estimulantes, certos momentos de exaltação espiritual, e outras assim, podem produzir num cérebro não genial faíscas do que, se fosse constante, seria génio. Tal homem, naturalmente normal, e portanto banal, mas inteligente, terá um momento em que escreve um soneto que fica, único dele, numa antologia. Tal outro — e isto é mais vulgar — terá um dito de espírito que mais vulgarmente atribuiríamos a um espírito realmente genial. O dito de espírito é, até, um dos exemplos curiosos do raro fenómeno do génio ocasional — e é de notar quantas vezes nasce do estímulo da sociedade, do vinho, e de outros assim.
Do mesmo modo, como todos sabemos, há circunstâncias ocasionais que podem fazer do homem, que diríamos normal e que de facto o é, um criminoso. Tal homem, normalmente moral mas fraco, praticará um desfalque sobre a pressão de circunstâncias desvairantes e da oportunidade traiçoeira. Tal outro, não menos normal, matará a mulher num acesso de raiva contra uma traição. Estes casos, não sendo inteiramente raros, são-no todavia mais do que julgamos. Em muitos casos de crime aparentemente ocasional, encontramos, se procurarmos bem, um fundo de anormalidade, talvez vago, talvez escasso, mas que certa circunstância ocasional violenta conseguiu erguer à superfície. O que distingue, contudo, e a todos será evidente, o criminoso-nato (chamemos-lhe assim) do criminoso ocasional, embora neste haja um vago fundo mórbido, é uma de três coisas: a desproporção entre o estímulo e a reacção criminosa; a reincidência constante no crime; e a premeditação.
O crime, porém ocasional ou não, é sempre crime. Como, porém, tanto o crime ocasional (precisamente por ser ocasional, mostra mais claramente e mais destacadamente, visto que se dá sobre um fundo não criminoso ou pouco criminoso, a mecânica do crime) como o homem normal, ou quase normal (em que se dá) nos mais compreensíveis que o anormal, a melhor maneira de estudarmos a mecânica do crime, e, derivadamente, a alma do criminoso, é fazermos uma análise de como surge, numa alma normal ou quase, o impulso realizado ou tentado para o crime.
A desproporção entre o estímulo e a reacção criminosa é característica do criminoso louco, isto é, ou do louco que se torna criminoso, ou do criminoso em que há um elemento concomitante de loucura. A constância na prática do crime é característica do criminoso idiota, ou do idiota malévolo, tipo diferente, ou do criminoso em que há um elemento concomitante de inferioridade mental. É no crime com premeditação que surge o exemplo perfeito, direi, até, o exemplo puro do criminoso. Como neste tipo de criminoso se não alia à sua idiotia relacional nenhum fenómeno rnórbido proveniente dos sentidos antagónicos, e seu desequilíbrio próprio, como deste tipo de criminoso deriva a doença que o faz criminoso, exclusivamente de uma perturbação do sentido de relação, não havemos de estranhar que haja crimes de relação em que há qualquer vaga coisa que parece génio. É que em toda a doença há qualquer coisa de esboçadamente pendular — no génio a frequente insociabilidade, que é a mesma coisa, salvo que em menor grau, que a base do crime; no criminoso premeditado a exaltação e clareza de organização que por vezes o converte num verdadeiro estratégico, se bem que num campo limitado. E, a propósito mas entre parênteses: mais tarde terei que tratar do estratégico mais detalhadamente.")
Lenz Buchmann sentia a cada dia que passava uma ligação mais forte com a menina Julia Liegnitz. Estava, de certa maneira, a fazê-la, como em tempos fizera a criadita que servia na casa dos pais. Um violação não sexual, mas contínua, aquela que não se agarra para depois largar; agarra e jamais larga; primeiro destrói, amassa, torna informe, colocando todos os valores antigos ao mesmo nível, e depois, sim, começa a dar uma outra forma , conduz e infiltra uma outra força.Aquela mulher abandonava, dia após dia, por completo, a ingenuidade. Em dois anos o político Lenz Buchmann e a sua secretária Julia Liegnitz tornaram-se inseparáveis. Como no processo de osmose: uma única substância.
Os livros, isso, sim, incomodava-o. Pedira mesmo - a certa altura exigira - que os livros de Julia e de Gustav Liegnitz não saíssem dos quartos respectivos e não fossem esquecidos pela casa.
Gostava tanto dela que não podia deixar de sorrir alegremente do seu mau gosto musical... Outras vezes deixava-me ficar na cama , a sonhar todo o tempo que quisesse... a calma que a minha amiga me dava era, mais do que alegria, era alívio do sofrimento .(...) Albertine possuía uma tal força de passividade , uma tal faculdade de esquecer e de se submeter, que essas relações haviam sido efectivamente cortadas, e curada a fobia que me obcecava. Enquanto o meu ciúme não havia reincarnado em novos seres, tivera , depois dos meus sofrimentos passados, um intervalo de calma.O seu encanto um pouco incómodo consistia em estar lá em casa como um animal doméstico que entra numa sala, que sai, que aparece onde menos se espera, e que vinha - o que me repousava profundamente - atirar-se para cima da minha cama, a meu lado, conquistando um lugar donde nunca se mexia, sem incomodar como uma pessoa incomodaria.(...)
As coisas mais insignificantes ganham de repente um valor extraordinário quando uma criatura que amamos ( ou a quem só faltava essa duplicidade para a amarmos) se esconde de nós! Em si mesmo, o sofrimento não nos proporciona forçosamente sentimentos de amor ou de ódio pela pessoa que o causa: um cirurgião que nos provoca dor continua a ser-nos indiferente. Mas numa mulher que nos disse que éramos tudo para ela, sem ela ser tudo para nós, numa mulher que temos prazer em contemplar, em beijar, em ter sentada nos joelhos, ficamos admirados mal sentimos que não dispomos dela.
Até cerca de metade do livro, não entendi o porquê do título: deveria ser O Prisioneiro. Albertine vive "enclausurada", mas ele é o verdadeiro prisioneiro...Depois, acabei por perceber: ela é prisioneira , ele é escravo, escravo da escravatura daquele pássaro engaiolado...
Tal como é costume fazer-se em vésperas de uma morte prematura, eu fazia as contas aos prazeres de que era privado pelo ponto final que Albertine punha à minha liberdade.(...) A bem dizer, eu havia chegado com Albertine àquele ponto em que ( quando tudo continua na mesma, quando as coisas se passam normalmente) uma mulher só nos serve de transição para outra mulher.(...) Aí estava justamente aquilo de que Albertine me privava. De que me privava? Não deveria antes pensar , pelo contrário, com que ela me gratificava? Se Albertine não vivesse comigo, se eu fosse livre, teria imaginado, e com razão, todas aquelas mulheres como objectos possíveis, prováveis, do seu desejo, do seu prazer.(...) Ao enclausurar Albertine, eu tinha ao mesmo tempo devolvido ao universo todas aquelas asas a rebrilhar que zumbem nos passeios, nos bailes, nos teatros, e que tornavam a ser tentadoras para mim porque Albertine já não podia sucumbir à tentação delas. Elas constituíam a beleza do mundo. Haviam constituído em tempo a de Albertine. Fora por tê-la visto como um pássaro misterioso, e depois como um grande atriz da praia, desejada, porventura, conquistada, que eu a achara maravilhosa.. Uma vez preso o pássaro em minha casa... a pouco e pouco perdera a beleza.(...) Mas a ideia da minha escravatura deixava de epente de me pesar, e desejava prolongá-la mais porque me parecia perceber que Albertine sentia cruelmente a sua. (...) Para que as suas grilhetas lhe parecessem mais leves pareceu-me que o mais hábil seria fazer-lhe crer que eu próprio lhas iria quebrar.
Estou a gostar muito, muito, deste quinto volume. Só tenho pena de não ser homem para poder avaliar, intimamente, a vivência real que o narrador / protagonista relata...Só posso imaginar, a minha representação mental é, inevitavelmente, condicionada pela minha natureza.
A partir de uma certa idade, por amor-próprio e por sagacidade, são as coisas que mais desejamos aquelas a que fingimos atribuir menor importância.(...) Aquele vago receio que senti de que Albertine me deixasse começara por se dissipar. Quando voltei para casa fizera-o com a sensação de um prisioneiro, de modo algum com a sensação de ir ao encontro de uma prisioneira.(...) A minha escravidão, de que me apercebera ainda quando , ao dar o endereço ao cocheiro, vira a luz na janela, deixara de me pesar pouco depois, quando vira que Albertine parecia sentir a sua tão cruelmente.Pretendera guardá-la para mim, porque a sentia esparsa noutras criaturas às quais não podia impedi-la de juntar-se. (...) Eu tinha lágrimas nos olhos, tal como aqueles que, sozinhos no seu quarto, imaginando ao sabor dos caprichosos meandros do seu devaneio a morte de um ente querido, crêem com tal minícia na dor que sentiriam que acabam mesmo por senti-la.(...) Em amor é mais fácil renunciar a um sentimento que a um hábito.
Continuo prisioneira, mas consola-me a certeza perversa de que o carcereiro é um ser que rasteja na cela que , livremente, construiu, à espera de ser esmagado...
"Lamentações de Adriano sobre a morte de Antinoos"
Não escrevi mais o meu nome em letras gregas sobre a cera das tabuinhas Porque estás morto E contigo morreu o meu projeto de viver a condição divina
Falamos junto à luz. Lá fora a noite
Imóvel brilha sobre o mar parado.
À sombra das palavras o teu rosto
Em mim se inscreva como se durasse.
Em nome da tua ausência
Construí com loucura uma grande casa branca
E ao longo das paredes te chorei
Com o passar do tempo , os fragmentos mais duros acabam por deslizar para uma localização onde não causam excessivos sofrimentos, onde já não se movem, de modo que deixa de se sentir a sua presença ; é o esquecimento, ou a recordação indiferente.
Não odeio a regularidade das flores em canteiros. Odeio, porém, o emprego público das flores. Se os canteiros fossem em parques fechados, se as árvores crescessem sobre recantos feudais, se os bancos não tivessem alguém, haveria com que consolar-me na contemplação inútil dos jardins. Assim, na cidade, regrados mas úteis, os jardins são para mim como gaiolas, em que as espontaneidades coloridas das árvores e das flores não têm senão espaço para o não ter, lugar para dele não sair, e a beleza própria sem a vida que pertence a ela. Mas há dias em que esta é a paisagem que me pertence, e em que entro como um figurante numa tragédia cómica. Nesses dias estou errado, mas, pelo menos em certo modo, sou mais feliz. Se me distraio, julgo que tenho realmente casa, lar aonde volte. Se me esqueço, sou normal, poupado para um fim, escovo um outro fato e leio um jornal todo.
Mas a ilusão não dura muito, tanto porque não dura como porque a noite vem. E a cor das flores, a sombra das árvores, o alinhamento de ruas e canteiros, tudo se esbate e encolhe. Por cima do erro e de eu estar homem abre-se de repente, como se a luz do dia fosse um pano de teatro que se escondesse para mim, o grande cenário das estrelas. E então esqueço com os olhos a plateia amorfa e aguardo os primeiros actores com um sobressalto de criança no circo.
Estou liberto e perdido. Sinto. Esfrio febre. Sou eu.
É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que eles voariam se as portas estivessem abertas… A verdade é oposto. Não há carcereiros. Os homens preferem as gaiolas aos voos. São eles mesmos que constroem as gaiolas em que se aprisionam…
Querer ser livre? Temos de nos limitar a querer ser: ser só e só ser...Ser implica pensar e nós estamos condenados a viver aprisionados pelo pensamento. Ser livre implica livre-arbítrio e ter de escolher é uma prisão...Será que isto faz sentido?
Teu corpo é teu prisioneiro.
Vive na cela de ti,
Íntegro, móbil, inteiro,
Ébrio de ti e de si.
É difícil encontrar, atualmente, um autor mais polémico: amado por uns, odiado por outros. Uns consideram-no um genial observador da sociedade e da condição humana; outros veem-no como um puro provocador, um vulgar escritor de pornografia, um racista insuportável.
Se o homem ri, se é o único , em todo o reino animal, a exibir esta atroz deformação facial, é igualmente por ser o único, a ultrapassar o egoísmo da natureza animal, atingindo o estádio infernal e supremo da crueldade.
A vida é dolorosa e dececionante. Por isso, é inútil escrever novas novelas realistas. Nós geralmente sabemos onde estamos em relação à realidade e não nos preocupamos em saber mais. A juventude foi a hora da felicidade, é a única temporada. Os jovens, que dirigem uma vida preguiçosa e despreocupada, parcialmente ocupados por estudos, podem-se dedicar ilimitadamente à exultação libertadora dos seus corpos. Podem jogar, dançar, amar e multiplicar os seus prazeres. Eles poderiam deixar uma festa, nas primeiras horas da manhã, na companhia de parceiros sexuais que escolheram, e contemplar a linda linha de funcionários que vão trabalhar. Eles eram o sal da terra, e tudo lhes foi dado, tudo lhes era permitido , tudo era possível. Mais tarde, tendo constituído uma família, tendo entrado no mundo adulto, eles seriam preparados para se preocupar, trabalho, responsabilidade e as dificuldades de existência. Teriam de pagar impostos, submeterem -se a formalidades administrativas, enquanto testemunham incessantemente - impotentes e cheios de vergonha - a degradação irreversível dos seus próprios corpos, o que será lento no início, logo cada vez mais rápido. Acima de tudo, eles teriam que cuidar de crianças, inimigos mortais, nas suas próprias casas, eles teriam que cuidar deles, alimentá-los, preocuparem-se com as suas doenças, fornecer os meios para a sua educação e o seu prazer, e ao contrário do mundo dos animais, isso não durará apenas uma temporada, eles permanecerão escravos de sua prole sempre, o tempo de alegria foi bem e verdadeiramente para eles, eles teriam que continuar a sofrer até o fim, com dor e com problemas de saúde crescentes . Até que eles não servem mais para nada e são definitivamente jogados no monte de lixo, pesados e inúteis. Em troca, os seus filhos não seriam de todo gratos, pelo contrário, os seus esforços, por mais vigorosos que fossem, nunca seriam considerados suficientes, eles, até o amargo final, seriam considerados culpados pelo simples facto de serem pais. A partir desta vida triste, marcada pela vergonha, toda alegria seria desapiadadamente banida. Quando eles se queriam aproximar dos corpos dos jovens, eles seriam expulsos, rejeitados, ridiculariizados, insultados e, cada vez mais frequentemente, presos. Os corpos físicos dos jovens, a única posse desejável que o mundo já produziu, foram reservados para o uso exclusivo dos jovens.
Juventude,beleza,força: os critérios do amor físico são exatamente os mesmos do nazismo.
Quando era criança
Vivi, sem saber,
Só para hoje ter
Aquela lembrança.
E hoje que sinto
Aquilo que fui.
Minha vida flui,
Feita do que minto.
Mas nesta prisão,
Livro único, leio
O sorriso alheio
De quem fui então.
Sou o pássaro que canta dentro da tua cabeça que canta na tua garganta canta onde lhe apeteça / Sou o pássaro que voa dentro do teu coração e do de qualquer pessoa mesmo as que julgas que não / Sou o pássaro da imaginação que voa até na prisão e canta por tudo e por nada mesmo com a boca fechada / E esta é a canção sem razão que não sirva para mais nada senão para ser cantada quando os amigos se vão / E ficas de novo sozinho na solidão que começa apenas com o passarinho dentro da tua cabeça.
No use looking out It's within that brings That lonely feeling...Alone again Alone again Alone again Alone...
Em prisões baixas fui um tempo atado,
vergonhoso castigo de meus erros;
inda agora arrojando levo os ferros
que a Morte, a meu pesar, tem já quebrado.
Sacrifiquei a vida a meu cuidado,
Que Amor não quer cordeiros nem bezerros;
Vi mágoas, vi misérias, vi desterros:
Parece-me que estava assi ordenado.
Contentei-me com pouco, conhecendo
Que era o contentamento vergonhoso,
Só por ver que cousa era viver ledo.
Não! Só quero a liberdade! Amor, glória, dinheiro são prisões. Bonitas salas? Bons estofos? Tapetes moles? Ah, mas deixem-me sair para ir ter comigo. Quero respirar o ar sozinho, Não tenho pulsações em conjunto, Não sinto em sociedade por quotas, Não sou senão eu, não nasci senão quem sou, estou cheio de mim. Onde quero dormir? No quintal... Nada de paredes — ser o grande entendimento — Eu e o universo, E que sossego, que paz não ver antes de dormir o espectro do guarda-fatos Mas o grande esplendor, negro e fresco de todos os astros juntos, O grande abismo infinito para cima A pôr brisas e bondades do alto na caveira tapada de carne que é a minha cara,
Onde só os olhos — outro céu — revelam o grande ser subjectivo. Não quero! Dêem-me a liberdade! Quero ser igual a mim mesmo. Não me capem com ideais! Não me vistam as camisas-de-forças das maneiras! Não me façam elogiável ou inteligível! Não me matem em vida! Quero saber atirar com essa bola alta à lua E ouvi-la cair no quintal do lado! Quero ir deitar-me na relva, pensando "Amanhã vou buscá-la"... Amanhã vou buscá-la ao quintal ao lado... Amanhã vou buscá-la ao quintal ao lado... " Amanhã vou buscá-la ao quintal" Buscá-la ao quintal Ao quintal ao lado...
Um inspector de prisões chega a uma cidade e encontra um homem sentado à porta da prisão a fumar cachimbo.
— Onde está o diretor?
— Saiu.
— E o chefe dos guardas?
— Foi assistir ao casamento do filho.
— E os outros guardas?
— Estão no café, a jogar bilhar.
— E você, que faz aqui?
— Eu não posso sair daqui. Sou o preso.
Que música escutas tão atentamente que não dás por mim? Que bosque, ou rio, ou mar? Ou é dentro de ti que tudo canta ainda?
Queria falar contigo, dizer-te apenas que estou aqui, mas tenho medo, medo que toda a música cesse e tu não possas mais olhar as rosas. Medo de quebrar o fio com que teces os dias sem memória...
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