Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...
domingo, 31 de dezembro de 2017
Crónica de um domingo idiota: o inverno do meu descontentamento.
O homem é um animal irracional, exactamente como os outros. (...) toda a vida social procede de irracionalismos vários, sendo absolutamente impossível (excepto no cérebro dos loucos e dos idiotas)... A única coisa superior que o homem pode conseguir é um disfarce do instinto, ou seja o domínio do instinto por meio de um instinto reputado superior.
A humanidade divide‑se em três classes sociais verdadeiras: os criadores de arte; os apreciadores de arte; e a plebe. As épocas maiores da humanidade são aquelas em que sobressaem os criadores de arte, mas não se sabe como se realizam essas épocas, porque ninguém sabe como se produzem homens de génio.
You're doing the same mistake twice Making the same mistake twice Come on over Don't be so caught up It's not about compromising I see problems down the line I know they're not mine I see darkness down the line I know it's not fine But don't wash the dirt off of your hands You're doing the same mistake twice Making the same mistake twice Come on over Don't be so caught up It's all about colonizing I see problems down the line I know they're not mine Don't let the darkness eat you up Don't let the darkness eat you up Don't let the darkness eat you up...
Mas nada se passara ainda, visto que ela ainda estava ali, visto que era ainda possível voltar a vê-la, convencê-la, levá-la comigo para sempre. Ainda não me sentia sozinho. Quis desviar o pensamento de Anny, porque, à força de lhe imaginar o corpo e rosto, tinha caído num extremo enervamento: as minhas mãos tremiam, e percorriam-me o corpo arrepios gelados. Pus-me a folhear os livros, nos mostruários dos revendedores, e especialmente os obscenos, porque, apesar de tudo, essas publicações ocupam o espírito.
Quando deram cinco horas no relógio da estação de Orsay, estava a olhar para as gravuras duma obra intitulada O Médico do Chicote. Eram pouco variadas: na maior parte delas, um matulão de barbas brandia uma chibata contra monstruosos traseiros nus. Mal me apercebi de que eram cinco horas, deitei o livro para o meio dos outros e saltei para um táxi, que me conduziu à estação de S. Lázaro.
Deambulei uns vinte minutos pelo passeio da via, depois avistei-os. Anny levava um espesso casaco de peles que lhe dava o ar duma senhora. E um véu. Ele vestia um sobretudo de pêlo de camelo. Era um tipo bronzeado, ainda novo, muito alto, bastante belo. Um estrangeiro, decerto, mas não um inglês; um egípcio, talvez. Subiram ambos para o comboio, sem me verem. Não se falavam. Em seguida, o fulano desceu e foi comprar jornais. Ela baixou o vidro do compartimento; viu-me. Olhou-me demoradamente, sem cólera, com uns olhos inexpressivos. Depois o tipo voltou a subir para a carruagem e o comboio partiu. Nesse momento vi distintamente o restaurante de Picaddilly, onde, antigamente, íamos os dois almoçar; depois tudo ruiu. Andei. Quando me senti cansado, entrei neste café e adormeci. Mesmo agora um criado me acordou, e estou a escrever estas linhas na penumbra do sono. Regressarei a Bouville amanhã, no comboio do meio-dia. Basta-me lá ficar dois dias: para fazer as malas e pôr as minhas coisas em ordem, no banco. Naturalmente, no Hotel Printania vão pedir que lhes pague quinze dias mais, por não os ter prevenido. Preciso também de ir à Biblioteca restituir os livros que me emprestaram. Em qualquer caso, estarei de volta a Paris antes do fim da semana.
E que ganharei eu com a mudança? Saio duma cidade para outra: esta é fendida por um rio, a outra é bordada pelo mar; à parte isso, são parecidas. Escolhe-se uma terra escalvada, estéril, e empurram-se para lá grandes pedras ocas. Nessas pedras ficam odores prisioneiros, odores mais pesados que o ar. Algumas vezes deitam-nos à rua, pela janela, e eles lá ficam, até os ventos os rasgarem. Com tempo claro, os ruídos entram por uma ponta da cidade e saem pela outra, depois de terem atravessado todas as paredes; outras vezes ficam a andar à roda. entre essas pedras que o sol coze, que o gelo fende.(...)
É isto a liberdade? Sou livre: já não me resta nenhuma razão para viver; todas as que experimentei cederam, e já não posso imaginar outras. Estou ainda novo, tenho ainda forças suficientes para recomeçar. Mas recomeçar o quê? Só agora percebo até que ponto, no auge dos meus terrores, das minhas náuseas, tinha contado com Anny para me salvar. O meu passado morreu, morreu o Sr. de Rollebon; Anny, se voltou, foi só para me tirar toda a esperança. Estou sozinho nesta rua branca, bordada por jardins. Só e livre.Mas esta liberdade parece-se um pouco com a morte. Hoje chega ao fim a minha vida.
A Náusea concede-me uma trégua curta. Mas sei que voltará: é o meu estado normal. Somente, hoje o meu corpo está cansado de mais para a suportar. Também os doentes têm fraquezas bem-vindas que lhes tiram, algumas horas, a consciência do seu mal. Aborreço-me, é tudo. De vez em quando bocejo com tanta força que as lágrimas me correm pelas faces. É um aborrecimento profundo, profundo, o coração profundo da existência, a própria matéria de que sou feito.
Terminei o ano a sentir-me completamente idiota... Uma boa motivação para a leitura...
O problema essencial da vida, que é o problema da realidade ou da verdade, não existe, nem pode existir em iguais termos para o homem de inteligência superior e para o homem vulgar. O homem de inteligência superior não tem, é certo, melhores elementos para descobrir a verdade do que o mais fechado dos idiotas.
Quando se mente, ou seja, se coloca com astúcia alguma coisa que acontece com excessiva raridade ou nunca acontece, a mentira torna-se muito mais verosímil.
É muito fácil viver fazendo-se de parvo. Se o tivesse sabido antes, ter-me-ia declarado idiota desde a minha juventude, e poderia ser que, por esta altura, até fosse mais inteligente. Porém, quis ter engenho demasiado depressa, e eis-me aqui, agora, feito um imbecil.
Dizem que aqueles que estão em locais altos como que são atraídos por si mesmos para baixo, para o abismo. Creio que muitos suicídios e homicídios só foram levados a cabo porque o revólver já estava na mão. Aqui também há um abismo, aqui também há um declive de quarenta e cinco graus, do qual é impossível não escorregar, e algo incita irresistivelmente a puxar o gatilho.
Julgar que ter automóvel é ser feliz é o sinal distintivo do plebeu.
A ler o mais breve possível...
Nasci talvez espiritualmente, num dia curto de Inverno. Chegou cedo a noite ao meu ser. Só em frustração e abandono posso realizar a minha vida.
Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno—
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no facto de aceitar—
No facto sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.
Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida?
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,
Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da terra no alto do Verão
E o frio da terra no cimo do Inverno.
A pálida luz da manhã de Inverno,
O cais e a razão
Não dão mais esperança, nem uma esperança sequer,
Ao meu coração.
O que tem que ser
Será, quer eu queira que seja ou que não.
No rumor do cais, no bulício do rio
Na rua a acordar
Não há mais sossego, nem um vazio sequer,
Para o meu esperar.
O que tem que não ser
Algures será, se o pensei; tudo mais é sonhar.
"E no meio de um inverno eu finalmente aprendi que havia dentro de mim um verão invencível."
Lembro-me de, em criança, rastejar entre livros de capas brilhantes, ou, amargurado por aquela vida meio fantástica que caracteriza a solidão, ter-me refugiado no sótão para me enrolar numa grande poltrona modelada à forma do meu corpo, numa luz azul de alfazema coada pelas janelas. (…) É um lugar acolhedor, maravilhoso, quando a chuva se abate sobre o telhado. E os livros inundados de luz, os livros de imagens que serviram a crianças há muito tempo mortas de velhice, colecções de romances baratos, pilhas de estampas mostrando as manifestações do poder divino: incêndios, inundações, maremotos e terramotos.(…)Quem confia os seus segredos ou uma história deve contar com a pessoa que o escuta ou lê, pois uma história tem tantas versões como leitores. Cada um toma dela o que quer ou o que pode, talhando-a assim à sua própria medida. Alguns aceitam uma parte e rejeitam o resto, outros passam-na à peneira dos seus conceitos, outros ainda transformam-na a seu bel-prazer. Uma história, para poder agradar, deve ter alguns pontos de contacto com o leitor. Só assim ele aceitará a parte maravilhosa.
"Quando as pessoas são felizes, não reparam se é Inverno ou Verão."
No ciclo eterno das mudáveis coisas
Novo inverno após novo outono volve
À diferente terra
Com a mesma maneira.
Porém a mim nem me acha diferente
Nem diferente deixa-me, fechado
Na clausura maligna
Da índole indecisa.
Presa da pálida fatalidade
De não mudar-me, me infiel renovo
Aos propósitos mudos
Morituros e infindos.
Meu cérebro fotográfico...Vaga náusea física... o cies no longe cheira-me a aqui perto...Que tristeza a de partir! What time did the captain say an order to leave? de partir e deixar atrás de nós Não só as pedras da cidade, e as casas e a cidade vista de longe Mas oh, [...] just ever and ever on that village on the other side up at river, it's just perfect in this [...] Também as memórias antigas, as carícias maternas hoje na sepultura, Tudo isso parece que ficou aqui, deixado aqui, e nós indo sem levar isso tudo... Non, Monsieur, c'est de l'autre bord... Ó Chico, não te chegues para fora([...] oh!) podes cair! Que lume na lenha da velha lareira provinciana — o senhor dá-me licença?... passa uma farda de guarda fiscal pelo meu ombro — e dos contos que me contavam nas noites de inverno u-uf-u-u-u-u... o apito do vapor... Et vous aussi, Mark — Sim senhor, para o Rio de Janeiro Tenho lá... yes, all the time... Ó pobre pequenino rio da minha terra!O ruído da água — shl, shl, shlbrtsher, shlbrtsher, e o meu velho primo, perdido para sempre. Quase que me esqueço de me poder lembrar dele came into the smoking room... God [...] Lisboa? Oh, yes, but not (entram para dentro alguns dias [...] através da minha sensação deles no meu cérebro que não tem olhos para os ver) u-u-u-u-u-u-u u u-u u-u-u-u-u-u u-u-u-u-u-u-u-u-u u-u-u-u-u-u-u u-u-u-u-u-u u u-u-u u-u-u u-u u-fff-(uu uff) f.f.(fff)
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