"Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas."
Nos últimos dias de dezembro de 1959, Albert Camus escreveu quatro cartas de amor a quatro mulheres diferentes, depois de umas férias com a mulher e os filhos:
Dia 29 : “Esta terrível separação fez-nos pelo menos sentir como nunca a constante necessidade que temos um do outro.”
Dia 30 : “Só para dizer-te que chego Terça-Feira de carro. Faz-me tão feliz a ideia de ver-te outra vez que me rio enquanto escrevo.”
Dia 31 : “Vejo-te na Terça-Feira, meu amor, e já te beijo antecipadamente e te bendigo desde o fundo do meu coração.”
Uma outra carta estabelecia as datas de um encontro prometido em Nova York...
"Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas."
“o amor é seres para mim a faca com que remexo as minhas entranhas”
A ti, por sua causa e tua, uma pessoa pode dizer a verdade como a mais ninguém, mais até, pode saber a sua verdade directamente de ti.
"As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas."
«Meu querido Antoine.»
Sorrio: não, decerto. Anny, decerto, não escreveu «meu querido Antoine».
Há seis anos -acabávamos de nos separar de comum acordo - decidi partir para Tóquio. Escrevi-lhe algumas palavras. Já não podia chamar-lhe «meu querido amor»; comecei, muito inocentemente, por «minha querida Anny».
«Fiquei admirada com o teu à-vontade», respondeu-me ela; «nunca fui, nem sou, a tua querida Anny. E tu, peço-te que acredites que não és o meu querido Antoine. Se não sabes como me hás-de chamar, não me chames coisa nenhuma. Mais vale assim.»
Tiro a carta da carteira. Anny não escreveu «meu querido Antoine». No fim da carta também não há nenhuma despedida delicada: «Preciso de te ver.» Nada que possa fixar-me quanto aos seus sentimentos. Não posso queixar-me: reconheço nestes modos o seu amor pelo perfeito. Ela queria sempre realizar «momentos perfeitos».
"Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas."
( Percebi, subitamente, que nunca foste meu amigo, unicamente me permitiste que eu o fosse...)
Minha querida,
Escrevo-te outra vez porque me sinto sozinho e porque me perturba ter um diálogo contigo na minha cabeça, sem que tu possas saber nada, ou ouvir, ou responder…
A ausência temporária faz bem, porque a presença constante torna as coisas demasiado parecidas para que possam ser distinguidas. A proximidade diminui até as torres, enquanto as ninharias e os lugares comuns, ao perto, se tornam grandes. Os pequenos hábitos, que podem irritar fisicamente e assumir uma forma emocional, desaparecem quando o objecto imediato é removido do campo de visão. As grandes paixões, que pela proximidade assumem a forma da rotina mesquinha, voltam à sua natural dimensão através da magia da distância. É assim com o meu amor. Basta que te roubem de mim num mero sonho para que eu saiba imediatamente que o tempo apenas serviu, como o sol e a chuva servem para as plantas, para crescer.
No momento em que tu desapareces, o meu amor mostra-se como aquilo que na verdade é: um gigante onde se concentra toda a energia do meu espírito e o carácter do meu coração. Faz-me sentir de novo um homem, porque sinto um grande amor. (…) Não o amor do homem Feuerhach, não o amor do metabolismo, não o amor pelo proletariado – mas o amor pelos que nos são queridos e especialmente por ti, faz um homem sentir-se de novo um homem.
Há muitas mulheres no mundo e algumas delas são belas. Mas onde é que eu podia encontrar um rosto em que cada traço, mesmo cada ruga, é uma lembrança das melhores e mais doces memórias da minha vida? Até as dores infinitas, as perdas irreparáveis… eu leio-as na tua doce fisionomia e a dor desaparece num beijo quando beijo a tua cara doce.
Adeus, minha querida, beijo-te mil vezes da cabeça aos pés,
Sempre teu,
Karl
Manchester, 21 de Junho de 1865
"Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas."
Meu anjo, meu tudo, meu próprio ser...
Esqueces-te tão facilmente que eu vivo por ti e por mim. Se estivéssemos completamente unidos, tu sentirias essa dor assim como eu a sinto. [...] Nós provavelmente devemo-nos ver em breve, entretanto, hoje eu não posso dividir contigo os pensamentos que tive nos últimos dias sobre minha própria vida – Se os nossos corações estivessem sempre juntos, eu não teria nenhum… O meu coração está cheio de coisas que eu gostaria de te dizer – ah – há momentos em que sinto que esse discurso é tão vazio – Lembra-te da minha verdade, o meu único tesouro... Teu fiel, Ludwig
"A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas"
Considero-te perdida, Teresa. O Sol de amanhã pode ser que eu o não veja.
Não posso ser o que tu querias que eu fosse. A minha paixão não se conforma com a desgraça. Eras a minha vida: tinha a certeza de que as contrariedades me não privavam de ti. Só o receio de perder-te me mata.(...)
Lembra-te de mim. Vive, para explicares ao mundo, com a tua lealdade a uma sombra, a razão por que me atraíste a um abismo. Escutarás com glória a voz do mundo, dizendo que eras digna de mim.
A hora em que leres esta carta...
Ouve-me!, se é que ainda Me podes tolerar. Neste papel rasgado Das arestas da minh'alma, Ai!, as absurdas intrigas Que te quisera contar! Ai os enredos, Os medos, E as lutas em que medito, Quer dê, quer não dê por isso, Sem descansar Um momento...! Quem sofre - pensa; e o tormento Não é sofrer, é pensar.
"(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas)".
Meu querido Bébézinho:
Hoje não recebi carta tua, mas – é claro – não me admirei, porque já sabia pela tua carta de hontem (a que me entregaste no carro) que não terias naturalmente tempo de me escrever. Como esta carta te chega ás mãos amanhã de manhã, quero mandar ao meu Bébé muitos e muitos parabens, muitos beijinhos, e desejar que ella seja muito e muito feliz,que muitas vezes o anniversario se repita com o Bébé sempre contente. O engraçado era que no anno que vem eu já te pudesse dar estes parabens de manhã, antes de me levantar. Percebes, Nininha?
Muitos beijos, muitissimos do teu, muito teu
Fernando, junho de 1920
Até hoje, todas as minhas cartas de amor não são mais do que a realização da minha necessidade de fazer frases. Se o «Prince Charmant» vier, que lhe direi eu de novo, de sincero, de verdadeiramente sentido? Tão pobres somos que as mesmas palavras nos servem para exprimir a mentira e a verdade!
Amo-te tanto que te não sei amar, amo tanto o teu corpo e o que em ti não é o teu corpo que não compreendo porque nos perdemos se a cada passo te encontro, se depois de ti a minha solidão incha do teu cheiro, do entusiasmo dos teus projetos e do redondo das tuas nádegas, se sufoco da ternura de que não consigo falar, aqui neste momento, amor, me despeço e te chamo sabendo que não virás e desejando que venhas do mesmo modo que, como diz Molero, um cego espera os olhos que encomendou pelo correio.
I memorize every line. I kiss the name that you sign. And darling, then I read again Right from the start, Love letters straight from your heart...
As duas cartas de amor mais difíceis de escrever são a primeira e a última., disse petrarca, entendido nesta matéria.
Uma carta de amor(?)não ridícula...
Há um vago número de muitos meses que me vê olhá-la constantemente, sempre com o mesmo olhar incerto e solícito. Eu sei que tem reparado nisso. E como tem reparado, deve ter achado estranho que esse olhar, não sendo propriamente tímido, nunca esboçasse uma significação. Sempre atento, vago e o mesmo, como que contente de ser só a tristeza disso... Mais nada... E dentro do seu pensar nisso — seja o sentimento qual seja com que tem pensado em mim — deve ter perscrutado as minhas possíveis intenções. Deve ter explicado a si própria, sem se satisfazer, que eu sou ou um tímido especial e original, ou uma qualquer espécie de qualquer coisa aparentado com o ser louco.Eu não sou, minha Senhora, perante o facto de olhá-la, nem estritamente um tímido, nem assentemente um louco. Sou outra coisa primeira e diversa, como, sem esperança de que me creia, lhe vou expor. Quantas vezes eu segredava ao seu ser sonhado: faça o seu dever de ânfora inútil, cumpra o seu mister de mera taça.
Com que saudade da ideia que quis forjar-me de si eu percebi um dia que era casada! O dia em que percebi isso foi trágico na minha vida. Não tive ciúmes do seu marido. Nunca pensei se acaso o tinha. Tive simplesmente saudades da minha ideia de si. Se eu um dia soubesse este absurdo — que uma mulher num quadro — sim essa — era casada, a mesma seria a minha dor. Possuí-la? Eu não sei como isso se faz. E mesmo que tivesse sobre mim a mancha humana de sabê-lo, que infame eu não seria para mim próprio, que insultador agente de minha própria grandeza, ao pensar sequer em nivelar-me com o seu marido!
Possuí-la? Um dia que acaso passe sozinha numa rua escura, um assaltante pode subjugá-la e possuí-la, pode fecundá-la até e deixar atrás de si esse rasto uterino. Se possuí-la é possuir-lhe o corpo que valor há nisso? Que não lhe possui a alma?... Como é que se possui uma alma? E pode haver um hábil e amoroso que consiga possuir-lhe essa «alma».(...) Quantas horas tenho passado em convívio secreto com a ideia de si! Temo-nos amado tanto, dentro dos meus sonhos? Mas mesmo aí, eu lhe juro, nunca me sonhei possuindo-a. Sou um delicado e um casto mesmo nos meus sonhos. Respeito até a ideia de uma mulher bela.
Sem comentários:
Enviar um comentário