In a Manner of speaking I just want to say That I could never forget the way You told me everything By saying nothing In a manner of speaking I don't understand How love in silence becomes reprimand But the way that i feel about you Is beyond words Oh give me the words Give me the words That tell me nothing Ohohohoh give me the words Give me the words That tell me everything In a manner of speaking Semantics won't do In this life that we live we only make do And the way that we feel Might have to be sacrified So in a manner of speaking I just want to say That just like you I should find a way To tell you everything By saying nothing.
Words! Mere words! How terrible they were! How clear, and vivid, and cruel! One could not escape from them. And yet what a subtle magic there was in them! They seemed to be able to give a plastic form to formless things, and to have a music of their own as sweet as that of viol or of lute. Mere words! Was there anything so real as words?
Where are the words To speak this thing in me To tell the words You’ll wanna hear....
I want to tell you my head is filled with things to say. When you're here All those words they seem to slip away...It's only words and words are all I have...I hear voices insinuating Feeds me words to this song that I am saying
Em ciência de computação, uma instrução é uma operação única, executada por um processador e definida por um conjunto de instruções. Num sentido amplo, uma "instrução" pode ser qualquer representação de um elemento num programa executável...
Li, não sei onde, uma ideia não original nem genial de que todos devíamos vir com manual de intruções...Dava-me jeito: há pessoas e situações tão enigmáticas que um processador tornaria a vida mais executável...A vida devia ser como as provas de exame e os manuais escolares: têm soluções,pelo menos para os professores...
É curiosa a palavra instrução: no plural, muda completamente de sentido, a instrução pode ser algo completamente diferente de as instruções: tenho instrução suficiente, mas precisa, e muito, de instruções... conheço muitas palavras, mas preciso de instruções para descobrir as que devo utilizar...
E, no seu pensamento vazio, surgem ,de forma caótica, palavras, aparentemente, desconexas: sorte, encenação, determinismo, música, morada, reino, laço, exílio, dúvidas, aforismos, baile, missa, romance, teste, viagem, escola, língua, império, corrupção, nosmeza, deus, loucura, sol, absurdo, biblioteca, conto, estrangeiro, sorriso, livro, fita, rio, novela, queda, sala, xadrez, opinião, sono, cadeira, novela, shana, papel, aforismo, teatro, jogo, destino, humor, infantilidade, escrita... Atordoam-me, insistentes, e o meu pensamento vazio mistura-se com o eco provocado por cada uma delas... Fica -me, pelo menos, a memória das palavras: elas não são lixo existencial, como tudo o resto...
estranhamente ali está a janela enorme aberta e posso ficar trancado no quarto toda a vida ou posso atirar-me da janela e morro assim a partir de um ponto alto e até posso gritar enquanto caio....
Saltar no vazio será preferível a um pensamento vazio?? prescindindo da linguagem, avanço para a docilidade como um belo animal mudo...Talvez desconstrua, reconstrua e construa as palavras...Talvez. Quem sabe?
A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos. (...) O amor, o sono, as drogas e intoxicantes, são formas elementares da arte, ou, antes, de produzir o mesmo efeito que ela. Mas amor, sono, e drogas tem cada um a sua desilusão. O amor farta ou desilude. Do sono desperta-se, e, quando se dormiu, não se viveu. As drogas pagam-se com a ruína de aquele mesmo físico que serviram de estimular. Mas na arte não há desilusão porque a ilusão foi admitida desde o princípio. Da arte não há despertar, porque nela não dormimos, embora sonhássemos. Na arte não há tributo ou multa que paguemos por ter gozado dela. O prazer que ela nos oferece, como em certo modo não é nosso, não temos nós que pagá-lo ou que arrepender-nos dele. Por arte entende-se tudo que nos delicia sem que seja nosso — o rasto da passagem, o sorriso dado a outrem, o poente, o poema, o universo objectivo. Possuir é perder. Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência.
The words we shared dissolved as they’re spoken...
Toda a palavra é como uma mácula desnecessária no silêncio e no nada...
Como não sou filósofa, como não sou prémio nobel, como sou culturalmente ninguém, ( Curioso, há uma certa profundidade na expressão popular do "zé ninguém"...as marias nem têm direito a ser ninguém, eu tenho: sou uma "maria ninguém") nunca serei entrevistada para dizer as minhas dez palavras preferidas. Vou, de qualquer modo, pensar nelas, mesmo que o mundo fique indiferente à minha escolha, uma escolha de ninguém.
Receio que algumas das minhas palavras estejam muito fora de moda: decoro, dignidade, ternura, deslumbramento, amor,confiança, mar, horizonte, planície e reino.
Fiquei(estou) indecisa relativamente à palavra abraço...É complexo destrinçar entre o gostar da palavra e valorizar esta forma de linguagem, para mim a mais reveladora do afeto humano.
Dá-me um abraço que seja forte
E me conforte a cada canto
Não digas nada que nada é tanto
E eu não me importo
Dá-me um abraço, fica por perto
Neste aperto, tão pouco espaço
Não quero mais nada, só o silêncio
Do teu abraço
A alguém que nos ampara, nos aprova, por vezes nos combate; alguém que partilha connosco, com igual fervor, as alegrias da arte e as da vida, os seus trabalhos jamais aborrecidos e jamais fáceis; alguém que não é a nossa sombra, nem o nosso reflexo, nem mesmo o nosso complemento, mas ela própria; alguém que nos deixa divinamente livres e, contudo, nos obriga a ser plenamente o que somos.
Experimentava junto a ti, um sentimento novo, de confiança e paz. Gostavas, tanto quanto eu , das longas caminhadas sem destino, através do campo, percorrendo caminhos que não levam a lugar algum. Aliás, não tinha necessidade de chegar a parte alguma. Bastava-me o facto de estar tranquila ao teu lado. A tua natureza pensativa combinava com o meu temperamento tímido. Calávamo -nos juntos. Em seguida,a tua voz grave, bonita e quase velada, a tua voz retemperada pelo silêncio, interrogava-me suavemente sobre a minha arte e sobre mim mesmo. Compreendi logo que sentias por mim uma espécie de ternura mesclada de compaixão. Eras bondosa. Conhecias o sofrimento por havê-lo curado ou minorado muitas vezes. Adivinhaste em mim um jovem doente, ou um jovem pobre. Eu era realmente tão pobre que nem sequer te amava. Em ti, via somente a doçura.
Por uma estrada inventada chega-se a qualquer lugar e por palavras escritas chega-se a qualquer vida em qualquer época. Começa-se devagar, com descrença, e vai-se andando encostado ao desespero até que as palavras visitem os sonhos e tomem conta deles. Primeiro uma vida, depois outras que a suportem e justifiquem. Vidas ao lado e vidas antigas, vidas que hão-de vir e outras que nunca chegaram a ser. Todas fazem falta, todas servem.
O não-dito ...correlaciona-se com o interdito, isto é, com o que não se deve dizer: toda a informação revelada a um destinatário que, até então, a desconhecia, obriga-o a refundir o conhecimento que este possuía sobre a realidade e sobre a sua relação com o outro. Assim, a comunicação pode implicar, paradoxalmente, ao mesmo tempo, reforço da união e separação.
Olhei para o espelho: uma superfície lisa ,brilhante, terrivelmente vazia,em branco.
Recordei o Ensaio sobre a Lucidez e Saramago...A urna estava vazia,imaculada, mas não havia na sala um só eleitor,um único para amostra,a quem pudesse ser exibida. Acabara de encontrar a metáfora perfeita: a minha alma é uma urna vazia,imaculada, em que não existe uma única imagem...De livro em livro, por uma curiosa associação, foi ter ao Coração Tão Branco de Javier Marías.
(Já só sei pensar através de livros, desprezo a capacidade de raciocínio desligada do que leio. Há muito que perdi a alma, algures, por aí... Pensei que a tinha reencontrado, mas foi uma ilusão e aqui estou, agora, ausente de mim, entre duas obras que têm em comum a ausência de votos e a ausência de palavras. O poder do voto e o poder das palavras, o significado do não voto e o significado das não palavras.)
Como descobrir se uma ausência de palavras é inação ou ação, um agir com um significado que tem de ser interpretado? Deixo a primeira questão para os sociólogos... O não-dito identifica-se, por vezes, com o interdito, com o que não se deve dizer. Como saber se um não dito é, afinal, um interdito? Só há uma certeza: a palavra obriga-nos a refundir a relação com o outro e, paradoxalmente, a comunicação pode implicar , ao mesmo tempo, reforço de união ou uma separação.
Há, ainda, que ter em conta o segredo que remete para um não-dito cujo conteúdo é demasiado trágico para que possa ser revelado. Será que o segredo e o interdito podem coincidir? Dizemos, até, sem dizer...?
Nenhuma voz me atinge por destino dela, e nenhuma me procura ansiosa... a mais formosa é sempre aquela que eu encontro agora,apenas porque a encontro e por mais nada.
Será que o acaso é acaso?
Se a sua voz prendesse tudo o que foge e ela te pudesse contar tudo o que não sabes, tudo o que ainda não tem nome... Se recordasse o som da tua voz, conheceria melhor a melodia do teu ritmo frásico...
Não teNHO voz ativa , sou um verbo intransitivo: sou amada, sou idealizada, sou atraiçoada. O que é SOU só se completa com um particípio passado. Nunca fui capaz de ser, limitei-me a existir como um mero jogo de palavras.
E agora?
A palavra e o silêncio determinam a vida de todo o ser humano: não há palavras inocentes, nenhum coração é tão branco que não possua culpa... Ter de admitir que o engano é a nossa condição natural “não devia magoar-nos tanto.”
Quando uma pessoa morre o que se esquece primeiro: a voz; o cheiro; o sorriso; as frases? Guardamos dentro de nós as palavras ou os silêncios?
El oficio de la palabra
es la posibilidad de que el mundo diga al mundo,
la posibilidad de que el mundo diga al hombre.
As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizíveis quanto se possa crer. A maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço nunca tocado por nenhuma palavra.
Do (mal)dito ao (não)dito...
Gosto de palavras, gosto de construir um mundo de palavras, um reino onde a perfeição não é quimera ...gosto de jogos de palavras, gosto de sentir que as palavras gostam de mim... Às vezes, nem sei o que fazer com elas, surgem , ansiosas e frenéticas, a atropelarem-se -me, na cabeça, num redemoinho assustador, desordenadas, caóticas,(mal)ditas... Outras vezes, desaparecem, e, então, experimento um vazio inexplicável, sinto-me muda, como se o pensamento fluísse sem suporte verbal: penso, sei que penso, sei o que estou a pensar, mas não consigo verbalizar. Invade-me a angústia do (não)dito... (Prefire as palavras (mal)ditas..)
Devia haver um estabelecimento onde se vendessem vocábulos para as diferentes situações. Sei que existe uma coisa chamada dicionário e que outras obras da Classe 0 (CDU) poderiam desempenhar esta função, mas não me apetece consultá-las...
O que eu queria era ir a uma loja, daquelas que passam fatura e tudo, para comprar palavras, muitas palavras e, com elas, fazer frases bonitas que conseguissem exprimir o indizível... Palavras que, no entanto, não se pudessem ouvir:daquelas que só se sentem e te fazem sorrir...
Não chóro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me teem feito chorar.
Sempre tive tendência para sentimentos inexprimíveis...Será que as palavras que os traduzem ainda não foram inventadas? Será que eu sinto fora do paradigma linguístico? Percorro, com ansiedade, o dicionário, de A a Z, à procura de um conjunto de sons ou de grafemas que me ajudem a exteriorizar o que perceciono. Talvez a verbalização me permitisse compreender. Se compreendesse, aceitaria. Não encontrando a palavra, não consigo reagir...Tenho medo de sufocar com a quantidade de letras e de sílabas que se acumulam dentro de mim, inutilmente, pois nenhuma me serve.Combino-as de diferentes modos e nada: nem significante nem significado. Tudo tem que ter um nome, eu quero que tenha, eu quero...
Como estou sem palavras (Que ambiguidade interessante), resolvi dedicar-me à análise sintática. Em escrevo-te, por exemplo, qual a função sintática de "te"? Complemento indireto? Pode ser que sim, mas pode ser que não- se ela não escrever para ti, se não te enviar nenhuma carta ou mensagem. "Te" poderá ser o complemento direto, se o tu for o próprio conteúdo daquilo que escreve
De qualquer modo, como não tenho palavras, não posso escrever para ti, não te posso escrever nem escrever sobre ti, portanto, nem vale a pena perder tempo a pensar nisto. Aliás, mesmo que reencontrasse as palavras, escrever-te seria um ato falhado pois tu nunca me lerias. Se tu não me lês, eu não te escrevo, seja qual for a função sintática de "te"...
Resolvi começar a registar, mesmo de modo desordenado, palavras que considero bonitas...A primeira é Margarida ( Como gostava de me chamar Margarida!! Se me chamasse Margarida, até o álvaro de campos me dedicaria um poema... Ai, Margarida, Se eu te desse a minha vida, Que farias tu com ela? (...) Mas, Margarida, Se este dar-te a minha vida Não fosse senão poesia? Comunicado pelo Engenheiro Naval, Sr. Álvaro de Campos, em estado de inconsciência alcoólica.
( Pensei-te e escrevi...)
Para mim? Para ti? Para ninguém. Quero atirar para aqui, negligentemente, sem pretensões de estilo, sem análises filosóficas, o que os ouvidos dos outros não recolhem: reflexões, impressões, ideias, maneiras de ver, de sentir - todo o meu espírito paradoxal, talvez frívolo, talvez profundo.Foram-se, há muito, os vinte anos, a época das análises, das complicadas dissecações interiores. Compreendi por fim que nada compreendi, que mesmo nada poderia ter compreendido de mim. Restam-me os outros... talvez por eles possa chegar às infinitas possibilidades do meu ser misterioso, intangível, secreto.
lá estou eu a inventar o céu aos pedaços, consegues ver a nossa manta lá em cima cá em baixo as nossas vidas a polpa das mão onde repousam linhas inteiras à espera de nascer
What though the radiance which was once so bright Be now for ever taken from my sight, Though nothing can bring back the hour Of splendor in the grass,of glory in the flower,We will grieve not, rather find Strenght in what remains behind;In the primal sympathy Which having been must ever be;In the soothing thoughts that spring Out of human suffering;In the faith that looks through death,In years that bring the philosophic mind.
Entrei no café com um rio na algibeira e pu-lo no chão... A seguir, tirei do bolso do colete nuvens e estrelas... Depois, encostado à mesa, tirei da boca um pássaro a cantar... E agora aqui estou a ouvir A melodia sem contorno Deste acaso de existir - onde só procuro a Beleza para me iludir dum destino.
Eu , uma mera fazedora de frases corretas, mas sem jeito, com emoçõezinhas risíveis...Reduzir-me-ei ao que nunca devia ter deixado de ser :coladora de textos e de músicas alheias... O melhor é ir de férias por um tempo.... Fazia-me bem um ano de férias: de mim, da vida, de tudo...
Please!
I take it all back! Everything.
I take it all back!
Every word!
I love you!
Como nasce o amor? Apenas sabemos como ele morre...
Se me deixasses ser O sítio onde podes voltar...
Saudades de camilo, da sua capacidade de palavrar: da lhaneza da sua linguagem, da erudição clássica, do romantismo, de vocábulos que jazem mortos nos dicionários. Dicionários, esses cemitérios de palavras, depósitos de objetos inúteis, desprezados porque ninguém os ama, ninguém os usa...
A quem ler - Esta novela parece querer demonstrar que sucedem casos incríveis. O autor conheceu algumas personagens e soube como se passaram as coisas aqui referidas. Pois, assim mesmo, tão incongruentes lhe pareceram que ficou muito tempo indeciso se lhe seria melhor inventá-las para saírem mais verossímeis do que as verdadeiras. A consciência gritou-lhe quando o romance estava já urdido e enredado com outro feitio. Venceu a verdade, onde já agora, e tão-somente, lhe é permitido vencer: — nas novelas.
O abade de Espinho, um dos mais ricos da diocese de Viseu, pecara na juventude. Coisa rara, senão singular, em abades. A serpe tentadora fizera-lhe o salto do pescoço de uma bela mulher, onde a mensageira do Averno se enroscara.
Era também gentil o presbítero. Bem pode ser que as línguas farpadas de duas serpentes se encontrassem na remetida, mutuando-se a tentação. Se a cúmplice do seu delito não estivesse desvairada dos mesmos filtros, é crível que fugisse da casa solarenga dos seus pais para a residência abacial do padre Leonardo Botelho de Queirós? Responda a dignidade e o pudor de quem lê.
Foram chamadas Eugénia e Ricardina. Luís pedia a primeira, que era morena, olhos negros e vivos, alta e nervosa, altiva e risonha. Carlos pedia a segunda, que era alva, olhos sonhadores e estáticos, compleição linfática, estatura mediana, ar melancólico e pudico, um certo quebranto que a poetas daria mais inspirações que a outra.
Ricardina era a mais doce alma que os anjos compuseram da graça e formosura do Céu. Tinha ela 13 anos quando saiu com o seguinte lance de extremada bondade. Norberto Calvo era um criado do seu pai, o seu braço direito nas lutas com os fregueses por causa das freguesas, um valentão “de rópia e chulice”, como lá dizem.
Isto não vai de afogadilho. Ricardina tem trinta dias para pensar e repensar. Em todo o caso, a questão reduz-se a uma de duas: casar com o primo Carlos, ou ser freira. Uma observação: daqui até que ela se resolva, nesta casa não entra pessoa estranha. Hei de ter boas espias... Carta que eu apanhe, entra em buchas no corpo de quem a cá mandar.
As duas meninas tinham dispensa de ouvir a cristianíssima alegação jurídica do monge. Pelo ordinário, assim que tomavam o chá, recolhiam-se à sua alcova, onde esperavam o sono, que facilmente as favorecia aligeirando-lhes os aborrecimentos da solidão.Naquela noite, porém, Eugénia, sobrexcitada por comoções de noiva, e Ricardina por saudades exacerbadas pela desesperança, não podiam
adormecer. Uma chorava, a outra queria consolar; mas espremia fel em vez de linimento na chaga, quando dissuadia a irmã de amar Bernardo e lhe figurava as delícias de ir com ela para uma vida mais alegre, casada com o primo Carlos.
— Não me digas isso, que não sou tua amiga! — segredava-lhe Ricardina,receosa de ser escutada. — Quero ser freira, e morrer antes de faltar à minha palavra. Amar outro homem não me é possível. Hei de esquecer o Bernardo só quando morrer.
Da vida anterior do académico já D. Clementina Pimentel referiu o principal. O seu pai tinha oito filhos, e colhia escasso pão com que lhes pagasse o incessante labutar nos campos. Enviara três ao Brasil, onde tinha um irmão solteiro e sovina. Arranjara dois no Porto em trato de caixeiros. Mandou, com poucos recursos, Bernardo a Lisboa aprender pintura. Escolheu o mais robusto para o ajudar na lavoura, e a filha para a casar com um dote de duzentos mil réis, quando aparecesse um rapaz videiro, que tivesse do seu algumas leiras.
Bernardo Moniz, avisado pelo pai, largou a custo os pincéis. A pintura deralhe pábulo ao devanear do espírito, por esferas mais altas e lúcidas que a do seu nascimento. Era a sua poesia e brasão. A soledade falava-lhe. O céu, as árvores, os ribeiros, os horizontes, o dilúculo da manhã e o arrebol da noite entendiam-no, davam-lhe em troca do amor as suavidades da contemplação. O jovem, às vezes, na praia de Belém, voltado ao mar, ou na quinta de Belas, emboscado nas ramagens, chorava; mas a soledade enviava-lhe as carícias das suas auras, o trilo das suas aves, e o acre balsâmico das suas moutas. E, depois, o pintor, à luz da noite, e nas madrugadas convidativas da inspiração, espelhava o coração na tela, reproduzindo quase sempre as poucas variantes do mesmo motivo
Como nasceu o amor de Ricardina ao antigo ovelheiro, que lhe lucilava ainda nas memórias da infância? A pergunta é, sobre ociosa, estólida. Como nasce o amor? Apenas sabemos como ele morre.
O abade de Espinho, vencido o impulso de ir em pessoa a Coimbra, sem ter sobre o certo o destino da filha, pediu à justiça de Viseu providências e ordens de captura para o académico Bernardo Moniz, raptor de Ricardina Pimentel. O corregedor duvidou passar mandados de prisão sem certeza de ser réu aquele que o autor não indiciava com provas sequer diminutas.
Às primeiras alvoradas do seguinte dia, após quatro horas de prática entre as duas senhoras e Alexandre, o filho de Bernardo Moniz sabia o nome do seu pai, e a minudenciosa história de Ricardina, desde os 18 anos. O dissabor de ter sido inutilmente enganado pela sua mãe era grande e até certo ponto justo; não obstante, o respeito filial aconselhou-o a dar como justificados os receios de Ricardina, quanto ao opróbrio cominado pela sociedade ao filho de um suposto assassino dos dois lentes de Coimbra.
- Quando deixaremos de chorar, Ricardina?
- Só não choram os que morrem... - respondeu ela.
Só nestes excertos de O Retrato de Ricardina vivificam-se as seguintes palavras: abacial, alcova,arrebol,aura, dllúculo,labutar, lhaneza, liniamento, lucilar, minudenciosa, opróbrio, pundonor, rópia, serpe, soledade, trilo...
Hoy tengo casi todas las palabras.
Pero me faltan casi todas.
Cada vez me faltan más.
Apenas si puedo unir estas que escribo
para decir el resto de ternura
y el hueco de temor
que se esconden en la ausencia de todo,
en la creciente ausencia
que no pide palabras.
O pide tal vez una:
la única palabra que no tengo
y sin embargo no me falta.
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